Sodoma e Gomorra

Você pode ter notado que Deus, após seu primeiro assassinato em massa, mostrou um pouco de remorso por afogar desnecessariamente quase tudo na Terra. Ele até prometeu nunca mais “destruir toda coisa vivente”. (Gênesis 8:21)

E ele cumpriu sua promessa, também (se você ignorar o massacre dos sodomitas), por mais ou menos dez capítulos. Mas, no final, Deus não resistiu à tentação de matar novamente.

Abraão tentou dissuadi-lo, no entanto. Ele, Deus e alguns amigos de Deus passaram o dia juntos. Mas, após lavarem os pés e comerem uma grande refeição, Deus e seus amigos decidiram que era hora de ir.

O SENHOR apareceu a ele nas planícies de Mamre: e ele estava sentado à porta da tenda no calor do dia; E ele levantou os olhos e olhou, e eis que três homens estavam diante dele: e quando os viu, correu ao encontro deles desde a porta da tenda, e se curvou ao chão, e disse … lavem os pés e descansem sob a árvore … E Abraão correu ao rebanho, e pegou um bezerro … E ele pegou manteiga, leite, e o bezerro que havia preparado, e colocou diante deles … e eles comeram. Gênesis 18:1-8

Eles estavam indo em direção a Sodoma, e Abraão decidiu que era melhor acompanhá-los.

Os homens se levantaram dali, e olharam para Sodoma: e Abraão foi com eles para guiá-los no caminho. 18:16

Enquanto caminhavam, Deus disse (para si mesmo?), “Devo esconder de Abraão o que vou fazer?

O SENHOR disse, Devo esconder de Abraão o que vou fazer? 18:17

Que estranho, não é? Deus se pergunta se deve contar a Abraão o que está prestes a fazer (que é, claro, matar todos em duas cidades). Ele não sabe o que fazer. Será que tem medo de que Abraão o convença a não fazer isso? Ou tente impedi-lo? Ou o quê? Ou será que está apenas envergonhado por ter pensamentos ruins novamente? Mas Deus finalmente se decide e conta a Abraão o que está tramando. Ele ouviu que as pessoas em Sodoma pecaram e decidiu ir até lá para ver por si mesmo.

O SENHOR disse, Porque o clamor de Sodoma e Gomorra é grande, e porque seu pecado é muito grave; descerei agora, e verei se fizeram conforme o clamor que chegou até mim; e se não, saberei. 18:20-21

Abraão percebeu logo de cara. Ele disse, “Destruirás também o justo com o ímpio?

Abraão se aproximou, e disse, Destruirás também o justo com o ímpio? 18:23

Deus, que está em um de seus humores, o ignora. Então, Abraão começa a negociar. E se houver 50 pessoas boas em Sodoma? Você as mataria também? “Não fará justiça o Juiz de toda a terra?

Se houver cinquenta justos na cidade: destruirás e não pouparás o lugar por causa dos cinquenta justos que estão lá? … Não fará justiça o Juiz de toda a terra? 18:24-25

Deus diz que, se encontrar 50 bons cidadãos em Sodoma, não matará todos.

O SENHOR disse, Se eu encontrar em Sodoma cinquenta justos na cidade, então pouparei todo o lugar por causa deles. 18:26

Então, Abraão tenta com 45, e Deus diz que não mataria todos se houvesse 45.

Se faltarem cinco dos cinquenta justos: destruirás toda a cidade por falta de cinco? E ele disse, Se eu encontrar lá quarenta e cinco, não a destruirei. 18:28

Abraão continua assim (sabendo que Deus é um pouco lento). E 40? 30? 20? 10? E a cada vez Deus responde da mesma forma: se ele encontrar alguns homens bons (bem, dez, pelo menos), não destruirá a cidade inteira.

Ele disse, Oh, que o SENHOR não se irrite, e falarei apenas mais esta vez: Se encontrarem dez lá. E ele disse, Não a destruirei por causa dos dez. 18:32

E então Deus simplesmente vai embora, e Abraão volta para casa.

O SENHOR seguiu seu caminho, assim que terminou de falar com Abraão: e Abraão voltou ao seu lugar. 18:33

Mas os dois amigos de Deus (agora chamados de anjos) fazem seu caminho para Sodoma. os convida e lhes dá o tratamento usual de Deus (lava seus pés e os alimenta).

Chegaram dois anjos a Sodoma à tarde … e , vendo-os, levantou-se ao encontro deles; e ele se curvou com o rosto ao chão; E disse, Eis agora, meus senhores, entrem, peço-vos, na casa de vosso servo, e fiquem toda a noite, e lavem os pés, e levantar-se-ão cedo, e seguirão vosso caminho. E eles disseram, Não; mas ficaremos na rua toda a noite. E ele insistiu muito com eles; e eles entraram em sua casa; e ele lhes fez um banquete, e assou pães sem fermento, e eles comeram. 19:1-3

Então, uma coisa estranha aconteceu. (Coisas estranhas acontecem frequentemente na Bíblia.) Todos os homens da cidade de Sodoma vieram à casa de e exigiram fazer sexo com os dois amigos anjos de .

Os homens de Sodoma cercaram a casa, tanto velhos quanto jovens, todo o povo de todos os lados: E chamaram , e disseram-lhe, Onde estão os homens que vieram a ti esta noite? traga-os para fora, para que os conheçamos. 19:4-5

Nossa, esses anjos deviam ser muito bonitos! A resposta de foi proteger os anjos (que você pensaria que poderiam se cuidar sozinhos) oferecendo à multidão enlouquecida por sexo suas duas filhas virgens.

Eis que tenho duas filhas que não conheceram homem; deixai-me, peço-vos, trazê-las a vós, e fazei com elas o que bem vos parecer. 19:8

[Este é um homem, aliás, que a Bíblia chama de “justo e reto” em 2 Pedro 2:7-8. Poucos versículos depois, ele ficará bêbado e engravidará suas duas filhas virgens (veja Gênesis 19:30-38), mas essa é outra história adorável da Bíblia.]

No final, porém, não há tempo para cumprir sua gentil oferta porque Deus está se preparando para cometer outro assassinato em massa. Os anjos cegam os sodomitas e dizem a , suas filhas virgens (e seus maridos!), e sua esposa para fugirem.

Mas os homens … feriram de cegueira os homens que estavam à porta da casa … E os homens disseram a , Tens aqui mais alguém? genro, e teus filhos, e tuas filhas, e tudo o que tens na cidade, traga-os para fora deste lugar: Porque destruiremos este lugaro SENHOR nos enviou para destruí-lo. 19:10-13

E então, o inferno se desata.

O SENHOR fez chover sobre Sodoma e sobre Gomorra enxofre e fogo do SENHOR desde o céu. 19:24

OK, isso é tudo. Esse é o segundo assassinato em massa de Deus.

Mas quantas pessoas Deus esmagou e queimou até a morte em Sodoma e Gomorra? Bem, eu, claro, não tenho ideia. Não acho que nada disso realmente aconteceu. Mas vou chutar 2000, 1000 de cada cidade.

alexcesarm83@gmail.com

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Capítulo I: Javé – O Deus Tribal que Virou Estrela 

Se você acha que Javé, o “Deus” do Antigo Testamento, desceu dos céus com uma auréola brilhante e um plano divino, prepare-se para cair da nuvem. O Hexateuco – Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio e Josué – vende Javé como o chefão supremo do universo, mas a história real é bem menos glamorosa. Spoiler: Javé não é um ser cósmico mandando mensagens de amor eterno. 

Ele é um deus tribal, nascido nas poeirentas colinas de Canaã, reciclado de mitos regionais e inflado pela propaganda de um povo que precisava de um mascote para suas guerras.

Vamos desenterrar as raízes desse “Senhor dos Exércitos” e mostrar como ele virou o popstar dos israelitas, enquanto rimos de quem ainda acha que ele dita regras em 2025.

 Lembrando que não tenho o menor compromisso com a “verdade” e só falo que eu acho e descubro em fontes que julgo confiáveis, até que eu mude de ideia. Se encontrar algum erro  peço que seja sinalize nesse ou em qualquer outro conteúdo desse portal na aba de “comentários”.

De Onde Raios Veio Javé?

Javé, ou Jeová para os íntimos, não apareceu do nada com um trovão e um CV de criador do mundo. As evidências arqueológicas e textuais apontam que ele era um deus local, provavelmente ligado às tribos seminômades da região de Edom e Midiã, no sul do Levante, por volta do século XIII a.C. 

Textos egípcios do período mencionam os “nômades de Yhw” em terras desérticas, sugerindo que Javé era o patrono de pastores beduínos antes de ser promovido a superstar israelita. Nada de harpas celestiais – o cara era basicamente o santo padroeiro de cabras e tendas.

Mas o pulo do gato veio com as inscrições de Kuntillet Ajrud e Khirbet el-Qom, do século VIII a.C., que mostram Javé como um deus cananeu, com cabeça de touro e com direito a uma esposa, a deusa Asherah. Isso mesmo: o “Deus único” do Antigo Testamento tinha uma parceira, uma divindade da fertilidade com quem dividia o palco.

Os israelitas, que eram cananeus antes de inventarem sua própria marca, pegaram Javé do panteão local, onde ele convivia com Baal, El e outros deuses de segunda, e começaram a turbiná-lo. Por quê? Porque todo mundo na região tinha um deus guerreiro para chamar de seu, e os israelitas queriam o mais bruto do bairro.

Um Deus Reciclado dos Vizinhos

Se você acha que Javé é original, dá uma olhada nos concorrentes. O deus El, chefe do panteão cananeu, aparece em Gênesis como “El Shaddai” ou “El Elyon” (Gênesis 14:18), e muitos dos feitos de Javé – como criar o mundo ou mandar dilúvios – são plágios descarados dos mitos mesopotâmicos. O “Enuma Elish” babilônico, de séculos antes, já contava como Marduk derrotava o caos e organizava a terra, bem parecido com o show de mágica de Javé em Gênesis 1. 

Até a história do dilúvio, onde Javé faz cosplay de justiceiro aquático, é uma cópia mal disfarçada do “Épico de Gilgamesh”, onde os deuses afogam a humanidade porque, sei lá, estavam de mau humor.

Os escribas israelitas, espertos que eram, reciclaram essas histórias durante o exílio babilônico (século VI a.C.), quando precisavam de um marketing pesado para unir o povo. 

Pegaram Javé, um deus do interior, e o transformaram no “Deus único”, apagando a esposa e os colegas do panteão como se fossem erros de roteiro. 

O resultado? Um super-herói divino que gritava “sou o maior!” enquanto mandava degolar cananeus e queimar cidades. É o tipo de rebrand que qualquer agência de publicidade invejaria.

Javé, o Senhor da Chacina

No Hexateuco, Javé não é um avô bondoso. Ele é um chefão tribal com uma queda por carnificinas. Em Êxodo, mata três mil israelitas por causa de um bezerro de ouro (Êxodo 32:28) – porque, né, nada diz “amor eterno” como uma pilha de caveiras. 

Em Josué, ordena a destruição de Jericó, Ai e outras cidades, com instruções claras:nada que respira deve sobrar (Josué 6:21). Crianças, idosos, gado? Tudo vira churrasco. Isso não é santidade; é a política de terra arrasada de um povo que queria Canaã a qualquer custo, com Javé como garoto-propaganda.

Arqueologicamente, aliás, essas “conquistas” são mais ficção que fato. Escavações em Jericó e Ai mostram que essas cidades eram vilarejos meia-boca ou nem existiam na época suposta (século XIII a.C.). 

“Então, por que o Hexateuco pinta Javé como um general genocida?” 

Simples: era propaganda para um povo que, séculos depois, precisava justificar sua presença numa terra disputada/roubada. Javé não era um deus de verdade; era o mascote de uma campanha de “colonização”, se assim podemos dizer.

A Fé Cega e os Palhaços do Púlpito

E aí vem o pior: tem gente que ainda engole esse Javé como se ele fosse o guru supremo do universo. Charlatães de terno de 10 mil citam o Antigo testamento para vender bênçãos ou amaldiçoar quem não paga o dízimo, como se um deus tribal de 3.000 anos atrás tivesse algo a dizer sobre escala 6×1, geopolítica ou aquecimento global. 

Fanáticos pegam versículos de “passa a fio de espada” e acham que é receita para política moderna, enquanto ignorantes leem “Javé disse” e batem palmas, sem se perguntar por que um deus precisa de tanto sangue para se sentir respeitado. Sério, meus amigos, é 2025 – trocar o cérebro por malabarismo teológico é foda.

Essa fé cega é o verdadeiro absurdo. Tomar um deus cananeu reciclado, que começou como um protetor de beduínos e terminou como o Rambo do Antigo Testamento, como verdade literal é o tipo de burrice que faz a arqueologia chorar. 

E quando pregadores espertalhões usam Javé para manipular multidões, ou extremistas o invocam para justificar ódio, eles só provam que o Antigo testamento é mais perigoso nas mãos de idiotas do que nas de escribas antigos.

Por que Isso Importa?

Desmitificar Javé não é só uma questão de dar risada do passado. É entender que o Hexateuco não caiu do céu – foi escrito por humanos, para humanos, numa era em que queimar uma vila era só mais um dia no escritório. 

Ver Javé como um constructo histórico, não como um oráculo, é o primeiro passo para parar de idolatrar textos que cheiram a sangue e cinzas. Nas próximas páginas, vamos dissecar cada narrativa, mostrando como esse “Deus” e suas histórias são menos sobre divindade e mais sobre a sede de poder de um povo. Spoiler: tem muita sujeira para desenterrar.

Referências:

    • Dever, W. G. (2005). Did God Have a Wife?

    • Finkelstein, I., & Silberman, N. A. (2001). The Bible Unearthed.

    • Redford, D. B. (1992). Egypt, Canaan, and Israel in Ancient Times.

    • Smith, M. S. (2001). The Origins of Biblical Monotheism.

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